Sete dias se completaram e havia uma saudade enorme dentro
dela. Não era de se assustar.
Há muito já não sabia lidar com a morte. Não sabia deixar ir
o ser e manter apenas as saudades e as boas lembranças. Era inconformada com as
perdas que já tivera e há muito já devia saber lidar com isso. Novamente, não
conseguiu.
Desde que o viu cair doente e sem poder fazer o que mais
gostava, rezava baixinho para que obtivesse o descanso e que o universo lhe
concedesse paz. Por mais amor que tivesse e vontade de tê-lo por perto, não
queria vê-lo sofrer. Esperou.
Ensaiou por diversas vezes sua cena frente à morte. Nada
funcionou.
À voz de seu genitor ao telefone no meio da tarde, chorou.
Não quis saber do espaço, dos arredores e nem das pessoas. Apenas se deixou
chorar.
Reuniu suas coisas e partiu: Era hora de dizer adeus.
Aproximou-se do corpo sem vida – que já não pertencia àquele
que conheceu -, tocou-lhe as mãos frias e lhe desejou uma boa viagem de ida.
Agradeceu pelo seu tempo na Terra e pediu que houvesse luz em seu caminho. Em
um sussurro, pediu que ele cuidasse dela e que estivesse sempre por perto. Não
sabia o porquê, mas ela se sentia criança novamente.
Dos 90 anos que viveu, ele esteve com ela por menos da
metade. Dos anos que ela ainda vive, deseja viver tanto quanto ele e aprender a
enfrentar as idas sem volta.
Da vida – e dos medos – que ela tem, não há nada o que se
julgar. Ela sabe que a morte vai voltar a aparecer. E ela também sabe que vai
ter que enfrentar.
Saudades.
Clísio Madeira
27.01.1921 – 16.01.2013
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