quarta-feira, 6 de fevereiro de 2013

Tempestades.

Ela estava atormentada.

Uma maré de dúvidas invadiu seus pensamentos e ela não conseguiu se segurar. Desesperou.

Seus sonhos e pesadelos se fundiam cada vez mais, deixando suas noites claras como o dia e sua mente cansada de tanto lutar. A busca diária pelo entendimento, bem como a tentativa de afastar o mau de sua mente a haviam deixado exausta e ela sentia que não dava mais pra continuar. Concentrou-se.

Desde que a mentira fora descoberta, seu coração estava em pedaços. Tentava, dia após dia, esquecer e continuar a jornada, porém seus valores diziam que era imperdoável. Por uma vida inteira, fora testemunha do sofrimento que causavam as inverdades e, ainda pequena, prometeu-se jamais perdoar quem lhe enganasse. E assim seguiu.

Protegeu-se, ano após ano, de todos os que lhe foram infiéis. Afastou todos os que trataram a verdade de forma banal e viu muitos se arrependerem e clamar por chances. Não cedeu.

Encontrou, enfim, o amor. O amor puro, porto seguro. Sentia-se dele e via-se ali, num cliché do conto de fadas. Mas a noite é escura e detém os mais temíveis mistérios. Inclusive os dele.
As verdades a invadiram como bola de neve e despedaçaram seu coração. Foi tomada pelas memórias longínquas e, sem pensar, proferiu: "Não dá mais." e partiu.

Na chuva que caía, buscou abrigo. Quis que ela lavasse todo o mal que sentia, mas ela apenas inundou seu corpo. Avistou as dúvidas passadas caminhando em sua direção e tentou se esquivar. Não conseguiu.
Nos dias que passaram, ela sofreu. Seu sono não era mais tranquilo, seus pensamentos não eram mais retilíneos, seu amor não era mais puro.

Decidiu, por esse mesmo amor, perdoar. Entendia que os humanos ainda não haviam alcançado a perfeição e que ela também erraria um dia. Arriscou-se.
O tempo prosseguia em seu caminho e os dias permaneciam os mesmos. Ela tentava, a todo momento, perdoar mais. Sabia que seria difícil e sabia o que estava por vir, mas ela se propusera a abandonar seus princípios e a dar uma segunda chance. Empenhou-se, então.

Seus pensamentos e sonhos continuavam embaralhados. 
Ela tinha mais amor a cada dia. 
Mas a dádiva de esquecer não lhe foi concedida.