sábado, 17 de setembro de 2011

Vésperas.

Ela estava desesperada.

Não sabia o que sentir e nem o que pensar. Sabia apenas que, pela manhã, tudo aquilo que conhecia se tornaria memória e uma imensidão de coisas novas adentraria em sua vida. Hesitou.

Há algum tempo já sabia que, em algum momento, esse sentimento a dominaria. Sabia que a hora de dizer "até logo" seria a mais difícil, mas esperava que fosse aos 45 do segundo tempo. E não na véspera.

Passou o dia em turbilhão. Mil pensamentos, coisas para arrumar e saudades para sentir. Ao longo de uma semana que passou em menos de uma hora, disse adeus. Aos amores, aos de sangue, ao seu passado. Aquilo que outrora fora sonho, tornou-se motivo de lágrimas.
Pela primeira vez em toda a espera, permitiu-se chorar.

Elas rolaram pelo seu rosto sem cessar. Era forte e frágil, ao mesmo tempo. Não queria que ninguém a visse, mas aquela a quem tinha amor maior, adentrou ao recinto sem anunciar.

- Por que choras? - perguntou. Não sabia. Eram tantas coisas juntas, que não sabia o porquê de tanto choro.

Abraçaram-se. Deixaram as lágrimas saírem sem receios e ali permaneceram. Em silêncio. O único som audível era dos corações apertados pela saudade precoce. Não sabia que era possível amar tanto um só ser. Ou não se tinha permitido fazê-lo até então. Não sabia.

Olharam-se nos olhos avermelhados pelo choro e viram a cumplicidade existente em ambos corações. Sabiam que era de corpos que estavam se separando e que - clichê - seus corações estariam sempre unidos. Mas a ideia da saudade daquele abraço era maior e, sim, fazia chorar.

Sabia que seria difícil. Sabia, desde o início, que isso iria acontecer. Sabia que não dormiria naquela noite e que a hora havia chegado. O amanhecer seria mais difícil do que a véspera.

Quebrou sua casca grossa e chorou como criança, torcendo para que tudo passasse tão rápido quanto veio.

segunda-feira, 29 de agosto de 2011

Rumos.

Ela não conseguia dormir.
Tinha pensamentos demais na cabeça e não conseguia acionar a frenagem de todos eles. Desistiu de tentar.

Estava com uma melodia na cabeça que a acompanhara durante todo o dia e, estranhamente, não queria tirá-la dali. Divertia-se com ela. Cantarolava baixo, apenas para seus pensamentos, na esperança de que eles acalmassem. Em vão.

Viu na tela à sua frente um site de buscas e digitou palavras soltas. Leu sobre tudo, mas não concentrou-se em nada. Estava atordoada demais.

A decisão, que outrora era motivo de perder o sono, fora tomada e, ainda assim, a deixava incapacitada de pregar os olhos. Pensava nas possibilidades, imaginava os sabores, as descobertas. Não sabia o que a aguardava dali em diante e, no fundo, não queria saber. Pela primeira vez na vida, ela queria seguir o tempo de acordo com seu próprio ritmo. Não se entendia.

- Dezoito dias, pensou.

Era tudo o que sabia. Não sabia o que aconteceria, não sabia quais eram os planos que estavam por vir. Sabia apenas que o tambor que ruflava dentro dela não conseguia parar de se emocionar com a ideia. A decisão estava tomada e os destinos traçados. Atravessar o oceano seria apenas o começo.

Seu conflito interno havia terminado, mas a batalha das emoções estavam apenas começando.


"Running free like the change of tide
I'm so alive, so alive, so alive..."

segunda-feira, 22 de agosto de 2011

Perspectivas.

Ela estava dividida.
Queria o mundo nas mãos, mas tinha que escolher apenas um continente. Não sabia qual.

Era jovem, bonita e um tanto atraente. Tinha tudo nas mãos e sede de fazer esse tudo. Uma certeza na cabeça e uma confusão no coração. Queria não se importar, mas vozes constantes diziam que ela precisava tomar uma direção e ela ficava confusa. Ela se sentia perdida.

De um lado, o amor e, do outro, o resto do mundo. Inserida em seu próprio universo de vozes internas, questionou-se se largaria tudo por amor. Sua cabeça afirmou, sem hesitar, que jamais isso seria possível. Seu coração apertou-se em seu pequeno espaço e questionou-se como seria então. Conflitos internos.

Seus órgãos vitais brigavam entre si para tentar se entender para escolher uma direção e ela, na espera da resposta, tentava não se importar. Sonhava apenas com as possibilidades e mergulhava dentro de cada uma delas. Assistia à própria vida como um filme.

Contradizia-se. Não sabia mais o que era prioridade. Não queria comer, não queria beber, não queria viver naquela indecisão. Estipulou um prazo.
- Três dias, a partir de hoje. - murmurou para si.

Queria que o amor se unisse aos seus sonhos e não precisasse escolher entre um ou outro. Queria que as coisas fossem mais fáceis. Queria não ter que dar tanta importância para o amanhã.

O prazo estava correndo e seu coração se apertava a cada momento.

Fechou os olhos e tentou se concentrar em dormir.

sábado, 23 de julho de 2011

Infinitos.

Era tarde e ela estava entediada. Não queria saber de ficar em casa e, muito menos, de tentar adentrar àquele mundo fútil entre algumas paredes. Era calmo e quieto, mas pra ela era quieto demais.

Era belo, longe das confusões metropolitanas e das luzes que ofuscam o céu. Mas, ainda assim, não via beleza. Fora consumida pela falta de ânimo e nada a fazia mudar de ideia. Até então.

Buscou à agenda e discou. Esperou e, quando foi atendida, deixou que as palavras saíssem de sua boca sem sequer filtrá-las.

Me tira daqui, ela gritava. Do outro lado, uma risada familiar se divertia com seu desespero, afirmando com segurança: "To indo te buscar!".

Pegou a mochila, que nunca fora desfeita, e direcionou-se à saída. Gritos vieram ao fundo, mas ela não se importava. Estava dominada pelo frenesi da fuga.

Partiu. Encontrou-se com aqueles a quem tinha amor - de amigo e de sangue - e rumaram ao mundo que era só deles. Um mundo onde ela sequer era ela. Onde deixava-se dominar pelo mínimo de êxtase existente. Onde o importante era apenas dela.

Riram, seduziram e contaram casos sem sentido. As horas passavam, mas elas não se importavam. Queriam entregar-se à noite e dela nunca mais sair. Queriam a eternidade em um segundo e o mundo em um grão de areia. Elas eram do infinito.

Ela estava feliz. Dominada pelo passar das horas e pela insignificância de sua contagem, lembrou do tempo em que o sentimento era pleno. Contou seus casos e os relembrou com saudade. Desejou voltar e desejou estar ali. Estava dividida. Pela primeira vez, estava começando a atravessar a ponte entre o céu e a escuridão. Não sabia o que sentia, mas sabia que não era como antes. Era bom.

Ela sabia que era só uma questão de tempo e estava se permitindo viver esse tempo. Seu infinito nunca se acabaria e estaria sempre esperando por ela.

Quantas e infinitas vezes o quisesse.



segunda-feira, 11 de julho de 2011

Frágil.

"Não faça isso", ela pensou.

As palavras lidas em uma tela iluminada invadiram a sua mente e partiram seu coração. Pensou em tudo e em nada. Teve vontade de sumir, de correr, de abraçar alguém na certeza de que tudo daria certo. Estava frágil, estava vulnerável. Não gostava de estar assim.

Outrora, poço de fortaleza, nada assim a abalaria. Porém, fatos, que não convém verbalizar, a deixaram envolvida demais. Frágil demais.

Os pensamentos vinham e iam, forte e continuamente. Ao mesmo tempo, entregou-se ao nada e desviou o olhar. Não que estivesse olhando para algo, mas apenas para mudar o foco da imagens que passavam por sua cabeça, repetidamente.

"O que há com ele?", dizia-se, repetidamente. Não sabia.

Não podia sentir, não podia pensar. Estava, finalmente, frente a frente com o fim. Sabia que um fato se aproximava e que haveria vazio em um dos espaços. Sabia que não faria sentido novamente. Sabia que estava só.
Sabia que partira-se e, dessa vez, juntar os pedaços não seria a tarefa mais fácil.

Ela estava mais frágil do que nunca.

sábado, 9 de julho de 2011

Ela.

Era ela. Nem feia nem bonita. Nem gorda nem magricela.
Tinha mil defeitos e qualidades à altura. Não os contava.

Aonde estava, não era feliz. Nem tinha amigos e nem nada. Tinha apenas memórias distantes. Essas também não importavam mais.

Em outro lugar, tinha amigos. Quando estava com eles, deixava a mente voar, os lábios sorrirem e ao nada se entregava. Sentia-se viva, sentia-se ela.

Ao redor de onde estava só via lembranças. Memórias de uma inocência que um dia foi dela, mas que não existe mais. Se já existiu.

Seu rosto, seu corpo, seu ritmo, suas prioridades. Tudo mudou. Se para bom ou ruim, não se importava. Ali, nada importava.

Queria voltar, estar com os amigos, voltar a viver. Queria sua música, sua liberdade, seus movimentos sem olhares de reprovação. Ela queria ser quem era de verdade.

Aonde estava, nada era o bastante . Havia teto, havia chão, mas não pra ela.

Ali, ela não era ela.

sexta-feira, 17 de junho de 2011

Ritual de passagem.

Mil coisas na cabeça. Um semestre que trouxe alegria, tristeza, dor e perdas. Irreparáveis e inesquecíveis. O último semestre de um curso perfeito e que tinha tudo pra ser maravilhoso. Não deu.

Eu não sei lidar com determinadas coisas e assumo isso. Meu querido analista que o diga. Depois dos acontecimentos - diga-se de passagem, os piores do ano -, eu precisei dele mais que nunca. Mas ainda não me conformei.

Hoje foi o primeiro dia. O primeiro em que a ficha começou a querer cair. Faltava alguém. Aquela que chamava pelo seu melhor amigo a cada cinco minutos. A que tinha um texto rápido e fluente. A que faz muita falta entre todos nós.

Separações provisórias que aconteceram e a saudade ainda acontece. Saudade que começa agora e de tudo o que se vai no tempo que está por vir. Da luzes matutinas dentre as árvores de um campus vivo. De ficar dias sem ver pessoas da própria sala e, quando encontra, sentir saudade de verdade. De olhar pro lado e imaginar o que será de nós no amanhã.

É um ritual de passagem. Estou encerrando mais uma etapa da minha vida e pulando pra outra mais importante. Em poucos dias eu vou poder bater no peito e dizer: EU SOU JORNALISTA! Eu estudei, passei perrengue e me formei. Não interessa se precisa ou não de diploma. O orgulho que tenho em mim é muito maior que qualquer coisa.

Sentir que está tudo confuso e passando rápido demais é normal. Complicado mesmo é enfrentar de cabeça erguida e com força nos pés pra não diminuir o passo. Apaixonadamente, eu não quero parar. Apenas quero que tudo vá tão rápido quanto veio. E eu sei que vai passar.

Ninguém falou que seria fácil e, se fosse, que graça teria?


Wake me up when september ends...

terça-feira, 8 de fevereiro de 2011

Um para sempre.

Eu tentei derramar uma lágrima. Só uma. Mas não deu.

Os olhos se encheram, brilharam e deixaram a visão turva. Mas não chorei. Não que eu seja forte, menos ainda que tenha vergonha de chorar. Choro pra mim é alívio pra alma e pra um coração triste. É esvaziar todo um poço de mágoa ou rancor que possa existir. E foi por isso mesmo que não aconteceu.

Meu coração estava – e ainda está – totalmente cheio. Só que de alegria, de amor e de vontade de quero mais. Vontade essa que eu sei que vai ser real. Aliás, já está sendo. A reciprocidade e as amizades irão permitir. E eu tenho fé.

Despedir é impossível. Dizer, quem sabe, um ‘até logo’, pode até ser possível. Acompanhar com os olhos a partida aperta o coração, mas não entristece: Aguça as lembranças.

A certeza de que vai ser pra sempre é maior do que qualquer coisa. Dois anos se passaram antes que pudesse se tornar verdade. E agora eu quero essa verdade pra mim.


"Só o amor constrói pontes indestrutíveis..."