quinta-feira, 21 de fevereiro de 2013

Ponteiros.


A noite cai, e a corrida se inicia.

A ânsia, a fome, o cansaço. 
Passos que aceleram.
O medo, a angústia, o alívio. 
A proteção do lar.

No fim, todos são iguais. 
De carro, coletivo ou a pé.
À posição invertida dos ponteiros, 
O mundo inteiro se levanta: 
É hora de partir.
Pra casa, pro futuro, pra morte. 
Apenas ir.

Deixar a labuta e correr ao aconchego.
Ou largar o presente pra chegar a tempo no futuro.
Ou morrer no caminho.

Já vi gente que nunca chegou.
Já vi gente dar graças a seu Deus por ter chegado.
Outros que apenas correram para saciar a fome.

O velocímetro orgânico que marcava o máximo, se retira.
Vai dormir e só volta junto ao Sol.
E será mais um dia acelerado.
De pressa, de sede, de tempo.

Que se vá, mas que volte.
E que eu possa ver-te cada dia mais. 

quarta-feira, 6 de fevereiro de 2013

Tempestades.

Ela estava atormentada.

Uma maré de dúvidas invadiu seus pensamentos e ela não conseguiu se segurar. Desesperou.

Seus sonhos e pesadelos se fundiam cada vez mais, deixando suas noites claras como o dia e sua mente cansada de tanto lutar. A busca diária pelo entendimento, bem como a tentativa de afastar o mau de sua mente a haviam deixado exausta e ela sentia que não dava mais pra continuar. Concentrou-se.

Desde que a mentira fora descoberta, seu coração estava em pedaços. Tentava, dia após dia, esquecer e continuar a jornada, porém seus valores diziam que era imperdoável. Por uma vida inteira, fora testemunha do sofrimento que causavam as inverdades e, ainda pequena, prometeu-se jamais perdoar quem lhe enganasse. E assim seguiu.

Protegeu-se, ano após ano, de todos os que lhe foram infiéis. Afastou todos os que trataram a verdade de forma banal e viu muitos se arrependerem e clamar por chances. Não cedeu.

Encontrou, enfim, o amor. O amor puro, porto seguro. Sentia-se dele e via-se ali, num cliché do conto de fadas. Mas a noite é escura e detém os mais temíveis mistérios. Inclusive os dele.
As verdades a invadiram como bola de neve e despedaçaram seu coração. Foi tomada pelas memórias longínquas e, sem pensar, proferiu: "Não dá mais." e partiu.

Na chuva que caía, buscou abrigo. Quis que ela lavasse todo o mal que sentia, mas ela apenas inundou seu corpo. Avistou as dúvidas passadas caminhando em sua direção e tentou se esquivar. Não conseguiu.
Nos dias que passaram, ela sofreu. Seu sono não era mais tranquilo, seus pensamentos não eram mais retilíneos, seu amor não era mais puro.

Decidiu, por esse mesmo amor, perdoar. Entendia que os humanos ainda não haviam alcançado a perfeição e que ela também erraria um dia. Arriscou-se.
O tempo prosseguia em seu caminho e os dias permaneciam os mesmos. Ela tentava, a todo momento, perdoar mais. Sabia que seria difícil e sabia o que estava por vir, mas ela se propusera a abandonar seus princípios e a dar uma segunda chance. Empenhou-se, então.

Seus pensamentos e sonhos continuavam embaralhados. 
Ela tinha mais amor a cada dia. 
Mas a dádiva de esquecer não lhe foi concedida.

terça-feira, 5 de fevereiro de 2013

Promessas.

Ela estava com saudades.

Muito havia se passado e ela sentia falta das coisas antigas. Os telefonemas constantes, tornaram-se mensagens esporádicas e as mensagens tornaram-se pensamentos. Pensou na ausência.

O que antes era resolvido com oito dígitos e um tom de linha, tornou-se motivo de agonia dentro dela. A tentativa de manter viva a proximidade esvaiu-se no tempo e virou lacuna. O tempo passado e as centenas de quilômetros fizeram com que os hábitos juntos se tornassem vontades solitárias. Silenciou.
Pensou em todos os amigos que tivera. Nos da infância, que ainda tinha contato, e nos que passavam por ela pela rua e fingiam que não a conheciam. Nos da adolescência, nos sonhos compartilhados e nos das lembranças mais recentes. Não sabia o que dizer.

Mergulhada nos sentimentos da lembrança, contou cada um que lhe cruzara o dedo e dissera: "Pra sempre!". Sentiu falta deles.
Ela sabia que seria assim um dia. Sabia que os rumos seriam contrários e que as voltas da vida os separariam. Ela sabia das causas e das consequências, mas ela também sabia dos sentimentos. Eles sim eram pra sempre. 

Lembrou-se da amizade mais pura e sincera que ainda mantinha. Lembrou-se, também, que era a mais antiga e que mesmo que a vida não permitisse vê-la com frequência, sabia da intensidade do amor que as guardava na presença. Sentiu falta dela.
Da necessidade da sinceridade amiga, guardou seus sentimentos no silêncio. Sabia que tinha alguém, mas não sabia a quem recorrer.

Eternizou na memória as amizades e os momentos vividos. Ela sabia o que foi dito e sabia que não havia sido em vão. Todos os sentimentos estavam guardados dentro dela.

E ela prometeu nunca se esquecer.