Seus sonhos estavam comprometidos.
Sim, ela vivia de sonhos, ambições e desejos de felicidade.
Ela acreditava na vida, nas pessoas e na força da verdade.
Acreditava que o mundo ainda era - ou deveria ser - como na época de seus ancestrais, recheados de verdade e pureza.
Verdades que mudavam vidas.
Purezas expressadas em sentimentos.
Há muito havia-se denominado um 'poço de sentimentos'.
Quando cheio, transbordava que não cabia em si.
Se vazio, era escuro, frio e sem vida.
E, em ambos, era transparente.
Não sabia esconder o que sentia, pois seu sorriso marcava o ápice e fazia transbordar.
As incontáveis lágrimas eram as que secavam o poço.
Em seus sonhos, não havia vazio.
Havia, porém, um 'pra sempre' de sorrisos de verdades.
Havia união, expectativas, ânsia por vida e por mais.
Muito mais.
Em seus sonhos, o poço causava inundações constantes, mas os habitantes nunca reclamavam.
A explosão de coisas boas advindas dos tantos sentimentos atingia à todos e se multiplicava.
Em seus sonhos, multiplicações e adições eram operações constantes.
Fechou os olhos.
Quando os reabriu, viu seu rosto no espelho e questionou as lágrimas.
Os olhos já inchados pelas incontáveis horas desde o fim.
Questionou a dor em seu coração e quantas vezes mais a iria sentir.
Perguntou-se se deixar de acreditar nas pessoas seria uma saída.
Quis parar de sonhar.
Contemplou sua imagem refletida e tentou lembrar o ponto em que vacilara.
Não encontrou.
Não porque era perfeita, mas sabia que não havia nada mais por fazer.
Sabia que a única coisa que demandava era a verdade e sabia que não, nunca, jamais iria deixar de buscá-la.
Sabia que não importava se era grande, pequena ou fundamentada.
Negar inverdades era o pilar principal de seu caráter e sabia que não abriria mão dele.
Lembrou-se da voz doce:
"Vá em frente, você tem coragem!"
Lembrou-se da simplicidade do sentimento e da singela alegria.
Agarrou-se à lembrança e não quis nunca que ela se fosse.
A voz ecoava em sua mente e ela tentou sonhar novamente.
Tentou apegar-se à esperança de ver as verdades, as alegrias, o contágio.
Adormeceu.
Sonhou com a mão carinhosa da genitora.
Sonhou com os donos do poço e com o trabalho que eles tiveram em enche-lo.
Despertou e viu-se novamente no mesmo espelho da noite do vazio.
"Essa é você. E você não é vazia."
Sabia que tudo mudaria novamente e que não seria fácil.
Sabia que havia dado tudo de si e que não havia falhado.
Sabia que pra estar cheio de novo, requer trabalho, mas o que vale é o resultado.
Acima de tudo, sabia que não, nunca, jamais poderia parar de sonhar!
Apertou os olhos, agarrou-se ao sentimento e deu início ao dia.