sábado, 21 de maio de 2016

Terrenos.

Não havia perdão
comparação
ou sequer explicação 
pro que se estava a concretizar

A separação havia sido feita 
há tempos, e de mau tempo vivia
de um lado, a colheita
do outro, a terra seca 

Falar no assunto nunca se podia 
crime, até, se consideraria
tal testemunho não valia 
era sinonimo de patifaria

Na leviandade precoce
deixou todo o resto de lado
grudou no confiado 
e se entregou ao que julgou doce

Passado jocoso 
cheio de estórias
pensamentos e memórias
presente que virou
um nada saudoso

Agora não há mais o quê
a terra seca cansou de se molhar sozinha
de ver a colheita de graça receber 
todas as divisões no passar da linha

Terra seca, terra seca
não te olhes para os lados
não te preocupes com o que não lhes é ordenado
aches já a tua represa

Terra seca tem coração
terra seca tem sentimento
terra seca só requer atenção
regada de bom julgamento.

Terra seca, pois, partiu
decidiu banhar-se de chuva
de se assentar mais em quem cuida
e não em quem a substituiu

E quem sabe, um dia
renascerá da terra seca
a vida que tanto insistia
em ter por vez
tudo aquilo que sempre queria

domingo, 29 de novembro de 2015

Fumaça.

Fumaça
do café
da chaminé
da água quente pro pé

Fumaça
de carro
de cigarro
do dia nublado

Fumaça
que evapora no vento
que some com o tempo
que não tem dimensão

Fumaça
do corpo apaixonado
da alma que canta
do sentimento aflorado

Fumaça 
que era do líquido
do consistente ou ilusório 
que por um tempo presente

Fumaça de gente
que encontra no frio
que vê na neblina
o aconchego do quente

Fumaça de gente 
de gente que ama
que vem e que vai
que fica pra sempre

Gente que marca
que gruda e desagarra
que fica na memória
mas que em presença se esvai

que nem fumaça. 

terça-feira, 15 de setembro de 2015

Lados.

Uma manhã
Um dia nublado
Mil pensamentos embaralhados

Ela estava no meio do caminho
Tantas ruas, nenhum destino
Não queria se perder

Ela acreditou no presente
Focou, pediu
Tentou se orientar

Tantas vozes a perguntavam
“O que será dessa jornada”
Não podia dar o que queriam

O sorriso em sua tela
Daquela que tinha saudades
Fazia-a ainda mais duvidosa

Ela só queria plenitude
A mesma paz que desejava
Queria acreditar nisso
E saber o que viria

Ela se perguntava o que seria
Do amanhã, mês que vem, o ano que seguia
Sabia o que não queria
Não bastava.

Precisava focar-se
Estava em todos os lados
Estava em todos os cantos
Estava em lugar nenhum

No meio do caminho tinha uma dúvida
Que pausava a vida
Que desacelerava o coração
Que agitava a cabeça
E desfalecia o corpo

Num suspiro profundo
Contou 1, dois, 3.
Olhou o relógio

E seguiu com o dia.

terça-feira, 2 de junho de 2015

Compromissos.

Seus sonhos estavam comprometidos. 

Sim, ela vivia de sonhos, ambições e desejos de felicidade.
Ela acreditava na vida, nas pessoas e na força da verdade.
Acreditava que o mundo ainda era - ou deveria ser - como na época de seus ancestrais, recheados de verdade e pureza.

Verdades que mudavam vidas.
Purezas expressadas em sentimentos.

Há muito havia-se denominado um 'poço de sentimentos'. 
Quando cheio, transbordava que não cabia em si.
Se vazio, era escuro, frio e sem vida.
E, em ambos, era transparente.

Não sabia esconder o que sentia, pois seu sorriso marcava o ápice e fazia transbordar. 
As incontáveis lágrimas eram as que secavam o poço.

Em seus sonhos, não havia vazio.
Havia, porém, um 'pra sempre' de sorrisos de verdades. 
Havia união, expectativas, ânsia por vida e por mais.
Muito mais.

Em seus sonhos, o poço causava inundações constantes, mas os habitantes nunca reclamavam.
A explosão de coisas boas advindas dos tantos sentimentos atingia à todos e se multiplicava. 
Em seus sonhos, multiplicações e adições eram operações constantes.

Fechou os olhos.
Quando os reabriu, viu seu rosto no espelho e questionou as lágrimas. 
Os olhos já inchados pelas incontáveis horas desde o fim.
Questionou a dor em seu coração e quantas vezes mais a iria sentir.
Perguntou-se se deixar de acreditar nas pessoas seria uma saída.
Quis parar de sonhar.

Contemplou sua imagem refletida e tentou lembrar o ponto em que vacilara.
Não encontrou.
Não porque era perfeita, mas sabia que não havia nada mais por fazer.
Sabia que a única coisa que demandava era a verdade e sabia que não, nunca, jamais iria deixar de buscá-la. 
Sabia que não importava se era grande, pequena ou fundamentada.
Negar inverdades era o pilar principal de seu caráter e sabia que não abriria mão dele.

Lembrou-se da voz doce: 
"Vá em frente, você tem coragem!"
Lembrou-se da simplicidade do sentimento e da singela alegria.
Agarrou-se à lembrança e não quis nunca que ela se fosse. 
A voz ecoava em sua mente e ela tentou sonhar novamente.
Tentou apegar-se à esperança de ver as verdades, as alegrias, o contágio.
Adormeceu.

Sonhou com a mão carinhosa da genitora. 
Sonhou com os donos do poço e com o trabalho que eles tiveram em enche-lo. 

Despertou e viu-se novamente no mesmo espelho da noite do vazio.
"Essa é você. E você não é vazia."

Sabia que tudo mudaria novamente e que não seria fácil.
Sabia que havia dado tudo de si e que não havia falhado.
Sabia que pra estar cheio de novo, requer trabalho, mas o que vale é o resultado.
Acima de tudo, sabia que não, nunca, jamais poderia parar de sonhar!

Apertou os olhos, agarrou-se ao sentimento e deu início ao dia.

sexta-feira, 15 de maio de 2015

Fixos.

Ela era intensa.

Se apaixonava pela vida e pelas belezas do mundo.
Era das pessoas e do mundo.

Ela não se segurava ou olhava pra trás frente à um destino promissor. Se acreditava, se jogava de cabeça tantas e quantas vezes fosse necessário.
Se decepcionava.

Seu coração era recheado e contornado por super-colas.
Por tantas vezes perdoou, deu segundas chances e se entregou novamente. como se nada antes a tivesse quebrado.
E ela não desistia.

Ela se importava com o sentimento, a sensação. 
O sufocar do longo suspiro, o acelerar no peito, e o turbilhão de adrenalina em dois segundos. 
Era apaixonada pelo carnal, mas era a alma que a encantava.
Ela acreditava na pureza das pessoas.

Mais uma vez, ela se apaixonou.
Acreditou, se entregou, viveu intensamente.
Perdoou quantas vezes foi necessário, entendeu e adaptou o quanto pudera.
Sempre ouvira os seus ensiná-la da importancia em consertar, de não jogar fora.
Quantas vezes havia perdoado, quantas vezes se havia feito vulnerável!  

Em tempo, quando o coração não mais pudera, quis desistir.
De tentar, insistir, persistir.

Entristeceu-se por sua própria fraqueza.
Contudo, enxergou sua vulnerabilidade como força.
Recordou tudo o que foi dito, todas as tentativas. 
Lembrou de todos os pedaços que colou de volta em seu coração e quantas vezes o mesmo pedaço caíra por não ter sequer tido tempo de deixar a cola secar.
Sentiu-se novamente fraca.
Sentiu-se com vontade de recomeço.
Então, se sentiu forte de novo.

Sabia que essa coragem nunca a abandonara.
Sabia que podia recomeçar quantas e tantas vezes quisesse.
Que se a cola não funcionasse, ela amarraria com barbante, mas seguiria em frente.
Ela sabia que não abandonaria suas crenças por ter seu coração partido.

Por fim, acreditou em si mesma e desistiu de tentar.
Pensou no que poderia acontecer de bom e nas tantas vezes que alcançara o sucesso por recomeçar.
Pensou que nunca se arrependeu de dar segundas chances.

Pensou que ela ainda era ela e que nada no mundo mudaria sua essência.

Juntou os pedaços e seguiu em frente.


domingo, 19 de abril de 2015

Misturas.

O cenário
A música
As curvas ao vento.

Os cachos dourados
O sorriso estampado
A incredulidade presente.

A fusão de cores
A criação de odores
A paisagem perfeita.

O coração acelerado
Temia não estar, de fato
À presenciar tal grandiosidade.

Uma natureza formatada
Por mãos 
Nem de ouro ou prata
Pra construir a unidade.

E ela
Ah, ela...

Maravilhada em corpo e alma
Queria ali fazer morada
Nos dias de sol
Nas noites estreladas

As belezas de seu mundo 
Pequeno, baixo, sem muros
Lhe encantavam sem mesuras.

No fim
Não viu mais nada.
Nem o tempo
Ou o cansaço
Ou o que viria.

As misturas eram reais.
E ela fazia parte delas.

Olhou pra trás
Registrou o poema
Prometeu-se retornar
E saiu de cena.

sexta-feira, 20 de fevereiro de 2015

Companhias.

Ela estava só. 
Fisicamente, não havia ninguém ao seu lado, mas sua mente estava cheia de memórias e diálogos. 
Havia uma multidão dentro dela. 
A mesa posta pra um, a marca do batom preferido na taça de vinho e a música ambiente compunham o cenário perfeito. Havia se retirado da vida por um tempo para se reencontrar, ver e sentir o desconhecido e ampliar seus horizontes. 
Conseguiu.
Estava fora de casa há três dias e ainda havia um último por vir. Lembrou-se das coincidências, das pessoas que conhecera e do tanto que aprendera nos dias precedentes. Por dentro, riu da ironia do destino, por transformar algo tão inusitado em uma experiência perfeita. 
Sentiu-se nova.
As ruas diferentes, o cenário artístico e todos os sentimentos que tivera nos últimos dias se reuniram num só. Por fim, constatou que não estava só e que nunca estaria. 
Contemplou o jantar servido na mesa posta pra um e lembrou-se de que nunca esteve só. 
Ela ainda se reconhecia. 
Ela ainda era completa.
Ela ainda era dela.